Poema aos Vinhos que Sabem a Ti

 

Poema aos Vinhos que Sabem a Ti


Poema aos Vinhos que Sabem a Ti


Há certos poentes que embriagam,
como beijos roubados num táxi parado,
tal e qual um céu pintado por Dalí, em ressaca,
e com a alma num copo entornado.

Na mesa, dois copos e um fantasma,
um Ato III, uma Saudade cansada, velho marinheiro
que sabe das noites em que a cama
tem cheiro de amor... e de travesseiro.

O sol, feito amante que parte sem pressa,
despe-se do mundo com pose de estrela,
os 3 pinheiros, acendem cigarros na curva da serra,
e deixa o crepúsculo nu na janela.

Lá fora, o silêncio afia promessas
nas cordas roucas das nossas palavras,
bebo o teu nome, com Inspiração, em goles de ausência,
e com gosto a pecado e hortelã na garrafa.

O amor, é como um Abade bêbado
que tropeça em cada Capela ao fim da tarde,
com lábios e garganta de vinho, olhar clandestino,
e sede de um beijo que sempre se atrasa.

Já tive paixões com a fúria do vento,
mas nenhuma soube morrer tão bonita
quanto esse sol que se vai como um lento
"hasta luego" que ainda me excita.

E quando a última uva se entrega à Garganta,
e a noite se faz Farrapeira na tua saia,
fico só, com o copo, a lua e a certeza,
de que amores assim morrem - Mas ensaia.


Paulo Brites


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