Poema ao Amor no Seu Tempo de Amar

 

Poema ao Amor no Seu Tempo de Amar


Poema ao Amor no Seu Tempo de Amar


Amar, dizem, é como um tango tardio,
que se dança com passos meio errados,
às vezes com o coração no pavio,
ou com os pés presos em sonhos desatados.

O amor na juventude é um incêndio em fúria,
uma aposta alta num bar de esquina,
é fogo que queima, é loucura e glória,
é poema riscado, é aposta fina.

Depois, o amor torna-se vinho tinto,
uma garrafa guardada para a noite calma,
sabores profundos, maduros, um toque distinto,
a lembrança suave que aquece a alma.

E na velhice, que ainda a tenho distante,
deverá ser como um relógio parado,
um olhar que fala sem dizer uma palavra,
uma mão que segura sem medo do passado.

Não deverá ser mais que um bar fechado,
onde ainda se toca a mesma velha canção,
mas o corpo que dança, já meio cansado,
carregará o peso do tempo e da erosão.

A tragédia não é amar tarde demais,
nem sentir que o tempo se riu da esperança,
é querer dançar quando a orquestra não toca mais,
é ser jovem num corpo que já não alcança.

Mas amar é sempre um ato de rebeldia,
mesmo que o tempo tente roubar o enredo,
porque no fim, a única poesia,
é continuar a amar, sem segredo e sem medo.


Paulo Brites


Cabanas de Tavira - Algarve

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