Poema ao Reflexo do Mar no Teu Céu Azul

 

Poema ao Reflexo do Mar no Teu Céu Azul


Poema ao Reflexo do Mar no Teu Céu Azul


Ainda te encontro ao fim da tarde,
no mesmo canto da taberna onde o mundo desaprende a doer,
com os teus cabelos cor de mel a pedir pecado,
e as tuas mãos de bebé a ensinar o que é viver.

Dizes muito, mas bebes devagar,
como se cada gole fosse uma promessa que não se jura,
e eu, tolo e teu, brindo contigo à ternura
como quem dança com o risco de tropeçar no mar.

O teu riso tem sal, tem onda, tem porto e tem naufrágio,
e o teu corpo — que nunca será mapa — é onde me perco de propósito.
Fazes-me versos só com o olhar
e eu fico poeta só de te ouvir bocejar.

Amar-te não é novela, nem fado, nem oração —
é copo rachado cheio até cima,
é carta por escrever no dorso da tua mão,
é acordar com cheiro a ti nos lençóis e na rima.

Somos tempestade e âncora,
maré viva e mesa posta,
tu com o teu vinho tinto e
eu com a minha forma tosca de te amar como se fosses resposta.

Enquanto o azul for azul e o mar souber o teu nome,
ficarei, sempre,
a beber-te os dias,
como quem sabe que o amor, às vezes, também se consome.


Paulo Brites


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