Um Poema no Dia Internacional da Fotografia
Não vejo o que o mundo me mostra,
vejo o que trago em mim,
e o olhar que pousa nas coisas
é sombra do que nunca tem fim.
As flores, os jardins, os labirintos,
as árvores, as ruas, o céu distante,
são telas onde pinto
os traços do meu semblante.
O fotógrafo, mais que o poeta,
capta o instante que escapa,
mas o instante não é o mundo,
é a alma que nele se retrata.
Cada imagem é uma pergunta,
cada luz, um desejo de ser,
de tocar o real que foge
e, ao mesmo tempo, se perder.
A lente é o meu espelho disfarçado,
a camara, o verso que não escrevi,
porque não fotografo o que está fora,
mas o que dentro de mim descobri.
O que vejo não é a verdade,
é o reflexo do meu próprio olhar,
a cor que a alma impõe à realidade,
o traço que insiste em se revelar.
Há em tudo uma solidão secreta,
um vazio que só quem sente vê.
E na foto, o que se capta?
A essência que só em mim é.
Fotografar é roubar do tempo
o que nunca foi tempo, nem lugar,
é, como o poeta, querer eternizar
o que jamais se pode encontrar.
Paulo Brites
Agosto/2024
Nazaré - Efemérides - Poemas - Paulo Brites

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