Poema aos Relógios Descalços desta Vida

 

Poema aos Relógios Descalços desta Vida


Poema aos Relógios Descalços desta Vida

Muda-se a hora, e eu mudo pouco,
mas finjo que é recomeço —
acendo cigarros no tempo louco,
faço promessas ao retrocesso.

O outono chega sem pedir licença,
varre-me folhas, varre-me o sono,
mas há beleza na decadência,
e há paz no engano do abandono.

A sombra cresce — é só a tarde,
não é tristeza, é despedida.
A luz cai mansa, mas não arde,
como quem ama e não duvida.

Os relógios riem — atrasados,
e eu rio deles, adiantado,
porque o tempo é só um disfarce
para o que nunca foi marcado.

E se o frio vem, que venha lento,
traga vinho, versos, e enganos,
porque é nos outonos do pensamento
que nascem os nossos verões humanos.

Paulo Brites
Out/2025


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