Já não sei viver sem este chão

 
Já não sei viver sem este chão

Já não sei viver sem este chão

Terra morena de onde se ergue viril
O chaparro e a voz uníssona do cante,
As ondas verdes e o ciciar do vento
A investir feroz nas arestas do monte 
A moldar as rugas do meu povo.

Já não sei viver sem este chão

Sem esta terra imensa, longo poema
Tecido de pão migado nas açordas,
Planície de cal inundada de sol!

Já não sei viver sem este chão

Sem a invernia açoitando o capote
A samarra de gola, raposa erguida
a proteger o frio da nortada,
Sem a lembrança quente do verão,
O pelourinho, a água funda do poço,
O balançar cadenciado dos quadris
a evocar dança fresca de cântaros
No entardecer de mais um dia,
O aroma de azinho com cheiro a pão
Estaladiço, a habitar a estrofe de trigo

Já não sei viver sem este chão
que quero agora partilhar contigo.

in "Travessia do Tempo Ágil" Grupo Narrativa editora, Luís Filipe Marcão, 2018

Alentejo - Luís Filipe Marcão - Poesia

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