Ninguém escreve à Alice

 
Ninguém escreve à Alice

Ninguém escreve à Alice

Era Outono e a tristeza
caía naqueles lados
como se dobrassem sinos
com um toque de finados

O mundo chamava Alice
e ela sem vontade de ir
tão cedo para estar amarga
mais ainda para cair

Talvez uma só palavra
talvez uma só missiva
pudesse mudar a agulha
dum coração à deriva

Mas o carteiro passou
nada deixou, nada disse
e o recado não chegou
ninguém escreve à Alice

Até que veio o inverno
do seu descontentamento
que lhe enregelou a alma
com um frio mudo e lento

E uma noite foi para a rua
com roupas de ritual
ao longe brilhavam néons
foi notícia no jornal

Talvez uma só palavra
talvez um simples recado
pudesse mudar a agulha
dum coração desvairado

Mas o carteiro passou
nada deixou, nada disse
e o recado não chegou.
Ninguém escreve à Alice.

Carlos Tê





Odemira - Alentejo - Rui Veloso 

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