Dona Laura – Imagens da Minha Objectiva
Olha a Laurinha lá vai toda destemida
diz que é crescida e que prescinde dos conselhos do pai
olha ela, lá vai toda decidida
dona da vida nem duvida que é por ali que vai
Olha a Laurinha à cabeça da charanga
das raparigas do recreio do liceu onde ela anda
e manda na dinâmica da escola
não vai à bola com a setôra de história
E não disfarça e faz a vida negra à criatura
é a ditadura de quem manda só porque sim
Olha a Laurinha que já fuma as escondidas do pai
com a mesada de alguém
ainda namora as escondidas mãe
enquanto diz que não tem medo de nada
nem ninguém
Vai, Dança até ser dia
que a vida são dois dias
e tu vais ser alguém
olha a tua mãe
com um olho na novela
e o outro na panela,
um dia vais ser tao Dona Laura como ela
Olha a Laurinha toda cheia de cidade
sem ter idade para sequer votar na junta daqui
sempre que a chamam ao quadro desatina e nada diz
mas bem que opina sobre o estado a que chegou o país
Olha a Laurinha lá vai cheia de prestígio
nenhum vestígio da miúda outrora santa e singela
e a mãe dela fica a vê-la da janela
ainda se lembra bem do tempo em que a Laurinha era ela
A fumar as escondidas do pai com o dinheiro que alguém
subtraiu da carteira da mãe
enquanto diz ao mundo que ainda há de vê-la ser alguém
Vai, canta até ser dia
que um dia há de ser dia
e tu vais ser alguém
que é tal e qual a mãe
um olho na novela
o outro na janela, um dia vais
ser tão Dona Laura como ela
Aproveita agora
que há de chegar a hora
que não poupa ninguém
vais ser igual à tua mãe
com a filha pela trela
Repete-se a novela, um dia vais
ser mais Dona Laura do que ela.
Miguel Araújo
Badajoz – Espanha – Carnaval – Paulo brites fotografia – imagens da minha objectiva - Miguel Araújo - Dona Laura

0 Comentários